O ministro da Comunicação Social de Angola, João Melo, no âmbito da institucionalização das “boas notícias” e do domínio absoluto da propaganda sobre o Jornalismo disse hoje à agência Lusa que a visita que o Presidente João Lourenço efectua de 22 a 24 deste mês a Portugal significa a “normalização completa” das relações bilaterais. E se ele o diz é porque é certamente… mentira.
Aliás, é sempre melhor deitar faladura sobre o sexo dos anjos de modo a reduzir, por exemplo, o impacto das notícias que nos dizem que Angola vai ter uma recessão económica de cerca de 4% este ano.
João Melo, um dos mais proeminentes ministros de João Lourenço (que só não o foi de José Eduardo dos Santos porque o anterior presidente entendeu que para estar mal rodeado já bastava os bajuladores que tinha) salientou que essa normalização “é, certamente”, uma das “condições para que as relações entre os dois países continuem a aprofundar-se”.
Citando uma máxima do partido que formatou João Melo, o MPLA, é caso para dizer que se vai de aprofundamento em aprofundamento até ao… afundamento final!
“Certamente que é uma boa notícia. Significa a normalização completa das relações institucionais entre Angola e Portugal e certamente que é uma condição para que as relações a outros níveis – económico, social, etc. – continuem a aprofundar-se”, destacou.
Indicando desconhecer ainda a agenda da visita de João Lourenço, a primeira de um chefe de Estado angolano a Portugal desde a efectuada em 2009 pelo então Presidente José Eduardo dos Santos, o ministro da Comunicação Social, adiantou, porém, que há “temas obrigatórios”.
“Previsivelmente, há áreas que são obrigatórias, como a cooperação económica ou a circulação de cidadãos entre ambos os países. Certamente que vão ser objecto de debates e discussões”, referiu, destacando que o Governo vai aprovar, antes da visita, legislação ligada à cooperação económica e colaboração fiscal, instrumentos definidos durante a visita do primeiro-ministro português, António Costa, a Angola, em Setembro, e que serão agora formalizados.
Questionado sobre se a visita oficial de João Lourenço a Portugal constitui um “virar de página” nas relações luso-angolanas, João Melo referiu que as autoridades de Luanda já há muito que a viraram.
“Já virámos essa página há muito tempo. Assim que Portugal, que as autoridades portuguesas, aplicaram os acordos que existem entre os nossos dois países em matéria judiciária, nós já virámos essa página há muito tempo”, disse, aludindo ao caso Manuel Vicente, ex-vice-Presidente de Angola, investigado no âmbito da Operação Fizz, em Portugal, e cujo processo foi remetido para a justiça angolana.
Então camarada João Melo?
João Melo escreveu no dia 8 de Agosto de 2015, no Jornal de Notícias (Portugal), um artigo de opinião com o título “A presunção tem dois lados”. Em 2008, o jornalista (?), escritor, director de uma agência de comunicação e deputado do MPLA foi o vencedor da 16ª edição do Prémio Maboque de Jornalismo, tendo recebido 70 mil dólares.
João Melo dirigiu vários meios de comunicação angolanos, estatais e privados. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), ocupou diversos cargos de responsabilidade nos respectivos órgãos sociais tais como secretário-geral, presidente da Comissão Directiva e presidente do Conselho Fiscal. Foi director de uma agência de comunicação e deu aulas em duas universidades privadas.
Como jornalista, ingressou na Rádio Nacional de Angola (RNA) e assumiu a direcção de diversos meios de Comunicação Social estatais, nomeadamente “Angop”, “Jornal de Angola” e o semanário privado “Correio da Semana”.
No artigo então publicado no JN, dizia que “a prisão, em Luanda, de 15 activistas acusados de prepararem uma sublevação popular de atentado ao Presidente da República está a ser usada como pretexto para reviver, sobretudo em Portugal, as velhas campanhas anti-MPLA do período da guerra civil em Angola, quando a UNITA pagava o salário de numerosos jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas, que adoravam as visitas à Jamba”
João Melo, na velha tradição dogmática do seu partido, reeditava velhas teses, segundo as regras – não menos dogmáticas – do seu “Jornal de Angola” (JA), desde sempre órgão oficial do MPLA, correia de transmissão do regime ditatorial que (des)governa Angola desde 1975.
De facto, no dia 12 de Maio de 2008, o Pravda (como é também conhecido o JA) ameaçou divulgar “as listas dos nomes dos quadrilheiros portugueses capturadas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo”. Até hoje não o fez. E também, e mais uma vez, João Melo fala da questão mas não dá o nome aos bois. É pena. Será que o vai fazer agora que é ministro? Seria ouro sobre azul.
Então, camarada João Melo, como mais vale tarde do que nunca, não será esta a melhor altura para divulgar essa lista de “jornalistas, políticos e outras figuras portuguesas”? Não será altura de pôr tudo em pratos limpos?
Continuamos à espera das listas de quadrilheiros portugueses e, já agora, também da imensa listagem dos oficiais das FAPLA e depois das FAA que trabalhavam para Savimbi, assim como dos políticos do MPLA, alguns com altos cargos no Governo e que também eram assalariados do líder da UNITA, e ainda dos jornalistas (portugueses e angolanos), hoje rendidos aos encantos do MPLA, e que também eram amamentados por Savimbi.
De baterias apontadas ao jornal português Público e ao programa “Eixo do Mal”, da SIC Notícias, o Pravda – certamente com a anuência de João Melo – afirmava que os “idiotas úteis” que integram o programa e o diário português estão ao serviço de “quadrilhas” que se serviram de “diamantes de sangue” em Angola.
Continuando os “diamantes de sangue” angolano a circular pelos areópagos da alta finança mundial, embora com outro nome, assim como o “petróleo de sangue”, seria bom que se soubesse (santa ingenuidade a nossa!) a que “quadrilhas” servem agora.
Por tudo isto, força camaradas do MPLA/regime, força João Melo, força João Lourenço. Se os tiverem no sítio (não têm, nunca tiveram e nunca terão, como é bom de ver) não devem esperar. Mandem cá para fora tudo o que têm. Tudo. Tudo. Tudo significa tudo. Percebem?
Sob a batuta do MPLA, estes escribas escolarizados há bem pouco tempo servem-se do “Jornal de Angola” (e não só, como se vê cada vez mais) para publicarem o que nem eles sabem o quer dizer e, quem sabe, para esconderem “as listas dos nomes dos quadrilheiros capturadas no bunker de Jonas Savimbi no Andulo” onde se calhar figuram alguns deles.
Folha 8 com Lusa